Cientistas notaram expansões sutis no cérebro de astronautas que voltaram de longas viagens no espaço (Foto: Radiological Society of North America)
Um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos e publicado na última terça-feira (14) na revista científica Radiology sugere que as viagens espaciais de longa duração podem causar alterações no volume cerebral e deformação da hipófise, uma glândula endócrina, em astronautas.
A pesquisa foi elaborada pois mais da metade dos tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) relataram mudanças na visão após exposição prolongada à microgravidade do espaço. A avaliação pós-vôo revelou inchaço do nervo óptico, hemorragia retiniana e outras alterações estruturais oculares.
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Os cientistas levantaram a hipótese de que isso ocorre por que o espaço não apresenta a pressão necessária para gerar o equilíbrio hidrostático, ou seja, os fluidos no nosso corpo não se distribuem de forma ideal e balanceadamente.
Cientistas apontam deformidades no cérebro de astronautas que realizaram grandes viagens (Foto: Reprodução)
"Quando você está em microgravidade, fluidos como o sangue venoso não acumulam mais as extremidades inferiores, mas se redistribuem para a frente", disse o principal autor do estudo, Larry A. Kramer, MD, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em Houston. "Esse movimento de fluido em direção à sua cabeça pode ser um dos mecanismos que causam alterações que estamos observando no olho e no compartimento intracraniano".
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A equipe realizou testes de ressonância magnética cerebral em 11 astronautas antes de viajarem para a ISS. Em seguida, fizeram o mesmo exame um dia após seu retorno e, ainda, em vários intervalos ao longo do ano seguinte. Os resultados mostraram que a exposição à microgravidade de longa duração causou expansão nos volumes do cérebro.
Além disso, houve um aumento da velocidade do fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR) — fluido corporal do cérebro — dos astronautas, podendo causar dificuldade para caminhar, problemas de controle da bexiga e demência. Porém, até o momento, esses sintomas não foram relatados em astronautas após viagens espaciais.
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A ressonância magnética também mostrou alterações na hipófise, também chamada de glândula pituitária ou de "glândula mestre", que governa a função de muitas outras glândulas do corpo. "Descobrimos que a glândula pituitária perde altura e fica menor após o vôo do que era antes", disse Kramer.
Os cientistas estão estudando maneiras de combater os efeitos da microgravidade. Uma opção em consideração é a criação de gravidade artificial, usando uma grande centrífuga que pode girar as pessoas na posição sentada ou de bruços. Também está sob investigação o uso de pressão negativa nas extremidades inferiores como forma de neutralizar a posição frontal do fluido, devido à microgravidade.